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amanda

     Era feriado.
     E quando acordei já haviam começado. Ou não tinham parado ainda. Difícil dizer. Buzinando, furando, acelerando, gritando, freando. Cada um a sua maneira. E a sinfonia é ininterrupta.
     Pelo apartamento, mobília morta e plantas de plástico. Algumas mudinhas sufocadas num cantinho da área de serviço. E os gatos. Domesticados. Deslocados. À nossa imagem e semelhança. Se divertem com objetos da casa. E com a gente. As gentes. Maior contato com natureza de que dispõem.
     Grades na janela da sala. Proteção. E lá fora, o sol se esconde atrás de prédios e fumaça. Já desanimado em levantar. E no alto, acima de tudo, o cara, o tal de redentor. Pra nos lembrar que somos uma sociedade cristã. Apesar do que se diz sobre liberdade de expressão e crença.
     Precisando de ar fresco resolvi conhecer o Parque Lage. 10 minutos andando. Árvores, árvores… caminhos cimentados, banquinhos, monumentos, estacionamento, seguranças. Aberto das 8 às 18. E gente pra todo lado. "Você queria o quê num feriado?"
     Pois é. Erro meu.
     Uma semana antes, a mesma coisa. Cachoeira do horto. Sábado de manhã. No caminho, um corredor de mansões. Trilha mapeada e emplacada. E lá? Excursão de escoteiros. "Ninguém mandou ir pra lá de fim de semana."
     É simples assim. Sem meio termo. Sem escapatória. A natureza que encontramos aqui é domesticada. Nos tornamos seres (vivos?) solitários, domesticados. Praga que se espalha por todo canto, com seus ruídos, odores e cores. E não contentes, domesticamos toda forma de vida que alcançamos. Tudo ao nosso dispor. É tudo o que temos. Caminhos pré-moldados e lazer cheio de regras e restrições.

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