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Dizem que é errando que se aprende…

 
    Diferente dos outros textos sobre carona, em que tentamos juntar, de tudo o que deu mais certo, dicas do melhor a se fazer, nesse texto contamos de uma viagem de um mês, à Argentina e Uruguai, tentando avisar de tudo o que é melhor não fazer.
 
     No geral, tudo tranquilo. Nenhuma desgraça de estrada, conhecemos pessoas interessantes, lugares bonitos. E no fim das contas, gastamos 150 reais cada um, viajando mais de 4000km em um mês, parando em cinco cidades, sem passar fome, rs. Mas dos trinta dias de viagem, quinze foram na estrada. E dos 150 reais, quase tudo foi em transporte (mesmo numa viagem de carona).

Paraná pra sempre
 
     Nosso ponto de partida foi Juquitiba-SP, mais precisamente km 330 da Régis Bittencourt (BR-116). Segunda-feira. 04/01/09. Até Curitiba, sucesso. Uma única carona, cara firmeza demais. E muito bom em Curitiba que você paga uma passagem de metropolitano e vai de terminal em terminal até chegar onde precisa, já que é tudo integrado. Assim que gastamos apenas R$2,20 cada um, fizemos várias integrações e chegamos ao terminal de Campo Comprido. De lá, sai um ônibus (não consigo lembrar o nome) que passa na BR-277, no posto Guaraní, já em Campo Largo. 
     Nesse posto, no primeiro dia, já cometemos um grande engano: sair desse posto pra Ponta Grossa. Na real, mais pra frente acabamos descobrindo que erramos feio na escolha da rota. Nosso plano foi o seguinte: de Curitiba seguir até Foz do Iguaçú, e daí entrar pra Argentina. Tudo errado. Caminho enorme dentro do Paraná, rota não muito popular pros caminhoneiros que saem do Brasil, a região de Foz é terrível pra carona, muito turista pra todo lado, o que complica pra quem tá afim de um rolê mendigo, rs.
 
     Pelo que ouvimos de caminhoneiros e caroneiros foi que o melhor seria ter seguido até Porto Alegre-RS, e de lá ter saído pela BR-471 pra Uruguaiana, também divisa com Argentina, mas mais pro Uruguai, longe da movimentação do Paraguai, da muvuca de Foz e da confusão de Misiones. E de lá parece que dá pra descer pela Ruta 14 direto pra Buenos Aires. Mas enfim, fica aí a sugestão…
 
     Voltando ao nosso erro mais pontual: como já eram umas cinco da tarde, os camnhoneiros que estavam indo pra Foz estavam já parando pra dormir. Mas os afobados resolveram pegar carona até Ponta Grossa, achando que estávamos nos adiantando. Aqui vale a dica: chega nesse posto, passa a noite se precisar, mas pega uma carona direto pra Foz. Mas a enrolação foi a seguinte: estávamos no BR-277, chamada nesse trecho de Rodovia Curitiba-Ponta Grossa. Como diz o nome, ela segue direto pra Ponta Grossa. Mas o que o nome não diz é que ela não segue como BR-277 até Ponta Grossa. Em determinado momento, a BR-277 vira pra esquerda, passando por Palmeira, até chegar em Guarapuava. E a Rodovia Curitiba-Ponta Grossa continua, mas como BR-376, passando por ponta Grossa e seguindo pro norte do Paraná, sentido Londrina. Parece simples, mas demorou muito pra gente entender porque seguimos na mesma rodovia e nos desviamos da nossa rota.
 
     No dia seguinte, depois de andar alguns quilômetros pra chegar num posto, e passar algumas horas ouvindo: "Não, vou pra Londrina", tivemos que voltar pra 277, com um motorista de metropolitano tendo que literalmente desenhar pra gente entender pra onde tínhamos que ir. Passamos a noite em Guarapuava. 150km num dia. E mais 250 no próximo, até Cascavel. Imagina que em um dia desses você fica acordado por mais de 12 horas, essas horas são passadas entre postos de gasolina, estrada e caronas. Numa média de 200km rodados por dia, imagina quantas horas sobram. E assim a gente aprende a trabalhar nossa paciência, hehe…
 
     Mas em Cascavel, a paciência deu uma brecha e desencanamos. Resolvemos seguir de cidade em cidade, de metropolitano, até Foz. Até a próxima cidade, Santa Tereza, rolou. Mas daí em diante, só ônibus de linha. Ou seja, tanto faz ir de cidade em cidade, ou ir direto. Até Foz: R$21,40. 

Argentina enfim.
    Chegando em Foz, outro erro: passar a fronteira no mesmo dia e chegar em Puerto Iguazu (Argentina) no fim da tarde. Foi aí que nos demos conta: janeiro, alta temporada, região turística, outro país, outra língua, fudeu. Misiones toda é uma região bastante turística, logo, de novembro a março é um caos, preços sobem e tudo o mais. E tudo isso com uma terra vermelha que impregna na roupa e um calor infernal que faz 30 minutos no sol parecerem 15 horas de câncer de pele. Resultado: pagamos R$10 cada um pra dormir num camping, R$21,50 num ônibus pra Posadas (300km) e R$37 no trem de Garupá pra Buenos Aires (1000km). Tudo em peso argentino dividido por dois.
 
    Outra observação: lembrar antes de sair de pesquisar na internet o preço da moeda e lugar melhor pra trocar. A gente esqueceu desse detalhe e acabamos trocando dinheiro em agência de ônibus, camping, e lojinha de rodoviária. Por sorte, o preço que pagamos parece ter sido bom ($2:R$1). No Uruguai trocamos em casa de câmbio mesmo ($10;R$1). Outra coisa também é prestar atenção nesse lance de trocar várias vezes de moeda e acabar perdendo dinheiro. No Uruguai, por exemplo, em vez de trocar os pesos argentinos que ainda tínhamos, trocamos os reais por peso uruguaio, senão perderíamos dinheiro, já que tínhamos pagado R$0,50 por peso argentino e no Uruguai o real valia $10, mas o peso argentino tava valendo $4,60 (e não $5).
 
    Câmbios a parte, entrando na Argentina, até Buenos Aires foram cinco noites: camping em Puerto Iguazu, rodoviaria de Posadas, estação de trem em Garupá, e duas noites no trem. Puerto Iguazu, como disse, não é a boa pra passar a noite, mas a rodoviária de Posadas é bem tranquila. Do lado tem um supermercado grande, com ar-condicionado, aberto até tarde, e com uma praça de alimentação que dá pra conseguir uns restos de pizza. E na rodoviária mesmo, uma galera dormindo, de boa. Em Garupá é o seguinte: o trem pra Buenos Aires sai quarta à noite ou domingo de tarde. Nos outros dias fica fechado, mas no sábado de tardezinha abre a estação pra ficar esperando o trem chegar, dormimos lá com uns doidão, mas tirando o calor e os mosquitos, tranquilo. E o trem, 40 horas. E pela alta temporada pagamos $74 numa passagem que custa $39 de abril a novembro. Mas enfim… Buenos Aires.
    Foram 10 dias em Buenos Aires. Lá o Yomango é um pouco mais complicado, em nenhum mercado é permitido entrar de mochila. E cuidado com as câmeras. Mas isso não foi muito problema, já que ficamos num apartamento perto da estação Congreso do metrô, e por ali tem muitas verdulerías e fruterías. Muito recicle lá pelas 21hs. E foi o que salvou porque frutas e verduras são muito caras por lá. E falando de rango, os biscoitos quase todos tem gordura bovina! Nunca ví isso. Mas o pão, por exemplo, é bem barato. Uma baguete grande por $1.
    Da Argentina, fomos pra Montevidéu de barco, a Cacciola. 4 horas de barco + 3 horas de ônibus. Com taxa e tudo $127 (R$63,50).

Uruguai
 
    No Uruguai fomos pra região do ateneu e da biblioteca anarquista do Cerro, em Montevideo. Depois, passamos o fim de semana em El Pinar, do lado de Montevideo, perto do Arroyo Pando. Muito lindo, e perto da Ruta 1, de onde pegamos carona pra Maldonado. O cara levou a gente por uma rodovia muito linda, pela costa. Vista para o mar, muito bom. Com esse mesmo cara fomos parar na praia nudista de Chihuahua… mas acabamos chegando a Maldonado são e salvos. Por ali conhecemos a Praia de Punta Ballena também. Essa região é bem bonita.
 
    Mas ao que interessa: de Maldonado pegamos um ônibus pra San Carlos, já na Ruta 9, que sobe pra Chuy. Da parada do ônibus andamos pouco mais de 1km até a Ruta 9. Levamos o dia todo pra chegar no Chuí. 200km. Nossa lenta média.

De volta ao Brasil
    No Chuí fomos pra Receita Federal. Os caminhoneiros têm que parar aí e esperar que sua carga seja liberada. Mas a gente conversou com um caminhoneiro que tava lá há uma semana! Tínhamos dormido num posto ali perto: passando a divisa passa primeiro um Mega Petro e depois esse. Chegamos na receita umas 8hs e lá ficamos até às 16hs do dia seguinte. No sábado cedo chegávamos a Porto Alegre-RS, onde ficamos uns três dias, entre descansando e derretendo. Estávamos perto da Redenção, uma praça grande, ou parque pequeno, não sei bem. Mas o lugar lota de domingo e feriado. Criança, chimarrão, cachorro, picnic, malabares… tem de tudo. Lugar agradável até… uns gramadões e tal.
 
    No dia de ir embora foi o capeta pra conseguirmos informações sobre ônibus que ia pra Free Way, ninguém sabe nada, o sistema de ônibus metropolitano de lá é meio caótico. Acabamos pegando um ônibus do Terminal do Mercado, perto da rodoviária, que ia pra Gravataí pela Free Way e paramos no pedágio de Gravataí. R$6! Mais um dia todo por 250km. Araranguá-SC no inesquecível dia mais quente de 2010 até então. Quanto mais enchente, mais calor. E a gente morrendo  desidratado na estrada. Tava doendo de verdade. Mas um pouco depois das seis da tarde, já sem esperança, um senhor topou nos levar. Nunca fiquei tão feliz de ficar no ar-condicionado. A príncipio ele ia levar a gente até Criciúma-SC, que passou pra Tubarão-SC, Joinville-SC. E acabamos viajando a noite toda e chegando no dia seguinte cedo de volta ao ponto de partida: os trezentos e poucos quilômetros da Régis. E essa não foi a úinica situação em que ser simpático e conquistar o motorista se mostrou essencial e salvou a viagem.

Rango do rolê
 
    Pra sair, juntamos castanhas, nozes e amêndoas, goiabinhas, granola, muita paçoca feita em casa (ver a receita em Cozinha.) e compramos um biscoito ou outro no caminho. Na Argentina compramos baguetes, polpa de tomate e algum doce barato. Na volta juntamos mais castanhas, aveia e açúcar pra fazer leite (ver a receita em Cozinha.). A gente ia beliscando durante o dia, e quando chegávamos num posto pra dormir, colávamos no restaurante do posto e pedíamos um prato de arroz com feijão, explicando que estávamos o dia todo na estrada, e observando que não comíamos carne. E isso foi massa descobrir: só fizemos isso no Brasil, mas em nenhum posto negaram o rango. E cada rango bom! Então todo dia jantávamos um prato de arroz com feijão e com uma coisa ou outra a mais que às vezes colocavam. E muitos postos tem café de graça também. E o principal dessa viagem é que vimos como é importante pedir sempre pra parar num posto de gasolina, e de preferência 24hs, com restaurante e tudo, porque você nunca sabe quando vai travar, e pra passar a noite é bom ter um lugar pra pedir rango e ter um lugarzinho mais seguro pra dormir.

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