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Tour de zines

Depois de pegar carona, fazer blog de carona, zine de carona, imaginem minha felicidade de viajar Brasil à fora (dessa vez de carro, na companhia de 4 amigos e uma amiga) levando o Quem tem dedo vai à Antares pro seu primeiro rolê, como parte da primeira Tour de Zines brasileira. E não só isso, em cada cidade um evento, em cada evento apresentar o Quem tem dedo pra mais pessoas, conversar sobre experiências e porquês de caronas e até ensinar uns quitutes veganos pra levar na bagagem!!

Foi no mínimo inspirador!
De volta pra CASA os planos não param: e se na segunda tour eu levasse uma nova edição do Quem tem dedo com mais informações??? Por sinal, se você tiver alguma informação, texto, tradução, poesia, foto, ou desenho que possa ajudar nessa nova edição, ficarei feliz em recebê-la pelo e-mail dofundo@riseup.net 🙂

Bom, voltando à turnê, nosso encerramento foi exatamente no Ugra Zine Fest, evento de inauguração do Anuário de Fanzines, uma ideia genial da galera da Ugra Press que reuniu 158 fanzines de todo o Brasil. E lá está também o Quem tem dedo, lindamente resenhado pelo Leandro. E não só o Quem tem dedo, como também uma entrevista SOBRE o Quem tem dedo, que eu posto aqui pra vocês conferirem 😉

1) Um zine sobre caronas: por que fazê-lo?
A ideia de juntar informações sobre isso surgiu de uma história que ouvi indo de Santos pra São Paulo. O cara que deu carona pra gente era mochileiro, e contou de uma viagem que fez com um amigo judeu. Segundo ele, o cara parou numa vendinha e perguntou se o livro tava lá. O livro, afinal, era um monte de cadernos cheios de anotações de viajantes que passaram por ali, e que foram mto úteis pra ele e o amigo. Fiquei pensando nisso com relação à carona tbm. Muitas vezes não sabemos como saímos de uma determinada cidade pra pegar carona, se tem algum posto melhor ou não etc. É muito bom quando encontramos alguém que nos dá uma dica boa, que facilita a viagem. Pensei em expandir essa ajuda, juntar informações num blog, em que outras pessoas pudessem acrescentar também suas próprias dicas valiosas. Concretizei o blog, mas por falta de habilidade e paciência com computadores e internet o blog anda a passo de tartaruga,  e fica a dúvida se estou mesmo conseguindo divulgá-lo pra quem precisa. Aí sim surge a ideia do zine, um material escrito, um guia de bolso, pra levar nas viagens, mostrar pros amigos e amigas, junto a isso algumas palavras que eu mesma queria dizer sobre o assunto, relatos, traduções e letras de música pra dar a inspiração e o ânimo na estrada.

2) A capa do zine é serigrafada. Alguma razão especial para isso?
A capa serigrafada foi uma ecolha estética, junto à vontade de praticar uma coisa que acabávamos de aprender. Ganhamos uma mesa, chamamos um amigo pra dar uma oficina. Faço os desenhos a mão, passo com nanquim pra folha vegetal, fazemos a tela e queimamos em casa. Gostamos desse carinho e atenção com os materiais que fazemos.

3) Como está sendo a reação dos leitores?
A reação está sendo melhor do que eu esperava. Algumas pessoas comentaram, passaram adiante, se utilizaram das informações e responderam. Era esta troca mesmo que eu desejava e fico feliz em estar conseguindo. Inclusive, essa reação me animou a fazer o mesmo com outros temas e ações que me inspiram, juntar informações e mais adiante transformá-las em material escrito. Esta semana começou a turnê de zines que estamos fazendo, e foi muito bom também apresentar o Quem tem dedo vai à Antares, responder e fazer perguntas, e trocar histórias de viagem.

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ivete

Parece impossível escolher
quando nenhuma opção é o que sonhamos

Entre o sim e o não
Entre isso e aquilo
O possível não serve

Cada um tem seu tempo
mas fica difícil esperar

Quando a energia acaba
a esperança some
e a confiança á abalada

E as escolhas não fazen tanta diferença
De todo jeito
a realidade venceu o sonho
E a vida que nos sobra
não é tão bela quanto poderia ser

se ousássemos…

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Rio de Janeiro – RJ

Água:

  • Universidade Estácio de Sá –
    Campus Rio Comprido:
    Rua do Bispo, 83 (próximo à praça do Rio Comprido).
  • Shopping Tijuca: Av. Maracanã, 987 (próximo
    à Avenida Conde Bonfim).
  • Prefeitura Municipal do Rio
    de Janeiro:
    Rua
    Afonso Cavalcanti, 455 – Cidade Nova (entre à Estação Estácio do Metrô e a
    Avenida Presidente Vargas).

Bibliotecas Publicas

  • Biblioteca da CASA: Rua Aureliano Portugal, 372 –
    Rio Comprido (travessa da Rua do Bispo, próximo à Universidade Estácio de
    Sá).
  •  CCS-RJ – Centro de Cultura Social do Rio
    de Janeiro
    : Rua Torres Homem, 790 –
    Vila Isabel (no final do Boulevard 28 de setembro, próximo à Escola de
    Samba Vila Isabel). Site: http://ccs.sarava.org/

Comida (lugares para recuperar):

  • Feira na Rua Aguiar, Tijuca
    Travessa
    da Rua Haddock Lobo, na quadra do Supermercado Mundial. Dia: segunda-feira.
    Horário bom: 13h00.
  • Feira da Rua Alzira Brandão,
    Tijuca –

    Travessa da Avenida Conde Bonfim. Dia: sexta-feira. Horário bom: 13h00.
  • Feira da Rua Vicente Licínio
    e Travessa Soledad
    Próximo
    à Praça Afonso Pena. Dia: domingo. Horário bom: 13h00
  • Supermercado Mercadez – Rua da
    Glória, 348. Em frente à Estação Glória do Metrô.
    Horário bom: 20:00.
    Dia: Todos, mas parece ser melhor às segundas e sextas.

Internet (acesso):

  • Universidade Estácio de Sá –
    Campus Rio Comprido:
    Rua do Bispo, 83 (próximo à praça do Rio Comprido). Horário:
    enquanto estiver aberto.
  • Museu Oi Futuro – Rua Dois de Dezembro, 63. Próximo
    ao Largo do Machado. Horário: enquanto estiver aberto. Tem internet wi-fi
    e eles fornecem teclados pra mexer lá mesmo, numas mesas.
  • Cidade do Samba – Rua Rivadávia, 60, Gamboa, Zona Portuária. 

Produtos grátis (reuso e doação)

  • Loja Grátis na CASA: Rua Aureliano Portugal, 372 –
    Rio Comprido. Travessa da Rua do Bispo, próximo à Universidade de Estácio
    de Sá.

Sanitários:

  • Botecos: Todos. Dica: Nunca pergunte
    se pode usar o banheiro, vá e use!
  • McDonald’s – Todos! E tem sabonete
    cheiroso.
  • Universidade Estácio de Sá –
    Campus Rio Comprido:
    Rua do Bispo, 83 (próximo à praça do Rio Comprido).
  • Shopping Tijuca: Av. Maracanã, 987 (próximo
    à Avenida Conde Bonfim).
  • Prefeitura Municipal do Rio
    de Janeiro:
    Rua
    Afonso Cavalcanti, 455 – Cidade Nova (entre à Estação Estácio do Metrô e a
    Avenida Presidente Vargas).

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Quem tem dedo vai a Antares

     O “quem tem dedo vai a Antares” é um fanzine sobre carona.

     Antares é uma cidade fictícia, criada por Érico Veríssimo no livro “Incidentes em Antares”. Apesar de fictícia, a cidade e seus acontecimentos são localizados e contextualizados no livro de maneira bem real. É o realismo fantástico.

     Talvez possamos criar em nossas vidas um pouco também desse realismo fantástico. Vivemos a realidade de todo mundo, mas criamos nossas fugas dentro dela, paralelo a ela criamos nosso mundo, mais fantástico mas não menos real.

     Pra sair do lugar, da realidade sufocante do cotidiano, e chegar as nossas cidades inventadas, disfarçada entre as estradas e direções reais, precisamos apenas do nosso polegar direito, e vontade de construir novas rotas possíveis.

     Esse zine contém relatos de viagem, poesias, divagações e questionamentos sobre os porquês e como da carona, receitas de comidas práticas pra viagem, traduções e adaptações de músicas e trechos de livros, fotos de viagem, e tudo que é dica que pensamos sobre como sair pra pegar carona, como fazer fogueira, o que levar, pontos bons nas estradas… dicas pra quem já faz, pra quem tá tomando coragem e pra quem nunca pensou no assunto.

     Há um tempo juntamos (e continuaremos juntando) essas e outras informações nesse blog. Se quiser colaborar, postar, xingar, criticar, perguntar, desabafar, sugerir, corrigir, mande um e-mail pra dofundo@riseup.net

     Nos escreva e mandamos o zine por correio. O conteúdo do zine está disponível para download.

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Dicas adicionais

Outro trecho do Guia Faça-você-mesmo 1, da Crimethink.

     Dicas adicionais… FALE COM ESTRANH@S “el@s têm mais medo de você do que você del@s”; isso não serve só para aranhas. Minhas habilidades sociais são péssimas, mas viajar cria esse clima de “nada a perder”, crucial para facilitações sociais e crimes em níveis insustentáveis. Desconhecid@s… el@s às vezes te deixam dormir no sofá! FIQUE SÓBRI@ se a experiência em si não te deixar doidão ou doidona, você provavelmente está meio chat@, ficar chapad@ pra aproveitar o rolê já tá meio ultrapassado. SAIA COM POUCO OU SEM $$$ lí em algum lugar – “quanto menos você gasta, mais se diverte” ROUBE pagar pelas coisas no meio da estrada é meio que desnecessário. Eu vejo o roubo como aqueles raps de resposta dos anos 80 – como o UTFO humilhando a Roxanne, e a Miss Shante voltando com um réplica sarcástica – é uma resposta (roubo) a um insulto (“trabalhe ou sofra”), feito sem olhá-los nos olhos, mas o ponto é feito. EXPLORE a geografia secreta da américa… existem mundos inteiros lá. Alguém deveria escrever um livro sobre intrusão. Lembro com muito carinho dos tempos de entrar escondida por saídas de emergência, arames farpados e portas da faculdade abertas com um canivete. Se eu não tivesse me enfiado – bem ilegalmente – pelas áreas em construção da faculdade, pra onde a vida teria me levado senão para aquele bueiro, até uma rede de túneis, para histórias subterrâneas… igual os Goonies!

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Vira-latas Sonhadores

Traduzido por um amigo, trecho do romance "off the map" da Crimethink.

    Ser um sonhador nem sempre é um céu estrelado e encantador. Algumas vezes pode ser apenas nublado e opaco, e acabo me cansando dessa vida de vira-lata. Cansada de estar nas calçadas e ter sempre pessoas me encarando, cansada de ser vigiada sempre que entro em uma loja, cansada de ser pega pelo pescoço ou pelo braço e jogada pra fora de cafés quando tento me esquivar até o banheiro pra encher nossas garrafas de água.
    Sei que isso acontece porque sou suja, porque carrego minha vida nas costas e não aparento ter nem um lar nem um gênero. Isso acontece porque pareço ser um fracasso da sociedade e coletivamente morremos de medo do fracasso e dos fracassados e fracassadas. Em nossa cultura do medo aprendemos que as fórmulas para o sucesso e segurança são únicas e singulares. Não existem fórmulas alternativas, ou pelo menos não que sejam de confiança. Então nos espelhamos uns nos outros e policiamos os reflexos em busca de qualquer tipo de aberração.
    Minha vida de vira-lata foi uma escolha. Posso voltar pra esse mundo padronizado quando quiser. Posso usar meu privilégio pra comprar de volta o respeito das mesmas pessoas que agora me trancam do lado de fora. Todas as chaves pra essas portas estão à venda. Então por que vivo nesse exílio auto-imposto?
    Porque você recebe de acordo com aquilo que paga. Pague muito e terá uma vida custosa. Pegue o que é de graça e você será livre. Nas condições da maioria das pessoas essa viagem não teria sido possível. Não, nós não tínhamos dinheiro para os albergues, mas quem teria nos dito pra continuar dançando se não tivéssemos ido ao Verottu Krottu (um squat em Amsterdã)?  Se tivéssemos pegado um ônibus teríamos perdido Ponturson. Não se encontra picnics em cemitérios na fórmula para o sucesso. Nenhum pão barato e chocolate roubado no cardápio.
Mas fora do mapa e além das fronteiras do medo existem outras fórmulas.
Casas abandonadas – permissão = abrigo de graça e aventura.
Chuva + hall de entrada coberto = gratidão.
Em pouco tempo fica claro que o que antes você achava que era raso e chapado, na verdade tem uma face oposta, quinas e um núcleo. Que os espelhos com os quais você cresceu são tão distorcidos quanto aqueles dos parques de diversão e que não há mais sentido em voltar a eles. Só existe desistir ou seguir em frente. Em uma direção cinismo, na outra, sonhos.
    Apesar de ter sido uma opção, às vezes sinto certos ressentimentos quanto às minhas escolhas, como por exemplo quando me impedem de usar o banheiro e tenho que vagar pela cidade atrás de um arbusto. Cinicamente penso: não é à toa que as cidades cheiram a mijo, só os ricos têm permissão pra urinar. Vocifero contra as injustiças, vaio os olhares descarados, abro mão de meus trajes e me prometo desistir de sonhar.
    Mas não consigo. Mesmo vociferando, vaiando e xingando, sou lembrada de que há anjos em todo lugar. Anjos que escolhem devolver as estrelas e o brilho ao céu. Anjos dentro do sistema, não apenas fora dele, como Jan, que nos deu carona ontem e desviou quilômetros de sua rota original apenas pra nos deixar em um bom lugar.
    “Aqui está o meu número”, disse depois de nos desejar boa sorte, “caso vocês não consigam uma carona vocês têm onde ficar essa noite.”
    Mais cedo, quando Hibckina o perguntou o que ele faria se não tivesse que manter seu emprego em computação, ele suspirou e olhou pela janela, além do asfalto, em direção à água.
    “Eu velejaria”, ele disse, “Eu velejaria o tempo todo.”
    “Sonhadores presos atrás de computadores”, Hibckina e eu murmuramos entristecidamente com nós mesmas mais tarde.
    E essa manhã, quando nos sentamos amparadas contra o calor da parede de tijolos de um restaurante, o proprietário saiu e sugeriu que fôssemos pra dentro onde havia mesas. Assim ficaríamos mais confortáveis, sem precisar consumir nada. Agradecidas pedimos café mesmo assim, e enquanto vasculhávamos nossos trocados ele nos disse pra pagar apenas o quanto pudéssemos pagar.
    “…e isso será o bastante”, sorriu.
    É o néctar do mundo dos anjos que alimenta os viajantes na estrada dos sonhos. Assistimos uns aos outros, mesmo quando nossas equações variam. Somos todos ângulos daquilo que uma vez pareceu chapado. Trazemos seu corpo à vida. Enquanto toma forma, encorpa, adquire bordas, expõe uma barriga antes escondida e um coração latente em seu interior, aquilo que antes parecia raso pode então ser reconhecido como o outro mundo que estamos criando. Fazemos dele um lar. Abrimos suas portas quando oferecemos gentileza e passamos por essas portas quando as aceitamos. Ao contar essas histórias estamos criando janelas.

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Por que se dar ao trabalho de viajar?

Tradução um trecho que interessante do guia faça-você-mesmo 1, do coletivo Crimethink, sobre viagens.

     Antes de pegar a estrada, você deveria ter ao menos uma vaga ideia do que quer tirar disso. Você só está fazendo isso porque todas as outras pessoas estão? Porque quer provar que consegue? Porque quer conhecer o país? Porque quer se divertir? Se livrar do vício do trabalho ou estudo? Mudar o mundo? Eu provavelmente comecei a viajar por todas essas razões ou mais. O principal que tirei disso foi que os EUA não parecem mais abstratos. Eu era legalmente uma cidadã dos Estados Unidos, “membro” de um país que basicamente só tinha visto do outro lado de uma janela de vidro ou em fotografias. Que estranho isso! Viajar me fez conhecer tipos pessoas que eu nem sabia que existiam antes: “o motorista de caminhão membro da milícia”, “a mãe solteira que ama pegar carona”, “o trabalhador da estrada que quer te deixar num ponto certo” etc. É divertido e bom pra mim, mas nesse ponto já viajei o suficiente e quero dar uma parada e fazer ativismo na minha cidade. Sinto um tipo de arrogância de não sentir orgulho de pensar nos “viajantes”. Muitas pessoas sentem que viajantes colam nas cidades, estragam os esquemas, reciclam nos melhores pontos, não deixam nada pra ninguém, ficam bêbados e vomitam no sofá, e depois seguem em frente sem deixar nada em troca. Esse estereótipo é um pouco cruel, mas tem algo a ver. Qual é a ideia mesmo?
     Bem, acho que tem um jeito de viajar que te dá a aventura e diversão que quer sem deixar de contribuir com as comunidades que você visita. Mendigos muitas vezes deixam alguma coisa sobrando no seu ponto de recicle pro próximo que passar. Não deveríamos tomar isso como modelo pro que queremos fazer nas comunidades que visitamos? Apoio mútuo é uma troca. Então aqui estão algumas ideias pra uma viagem responsável e completa. Algumas delas eu pensei, outras vi em ação:

     * Comece um infoshop itinerante num trailer. Conheço dois grupos de pessoas fazendo isso atualmente. Um rouba livros radicais de lojas de corporações e revende mais barato pra pagar o gás. O outro distribui livros por mídia autônoma.
     * Lave a louça. Lave a louça. Lave a louça.
     * Compartilhe habilidades suas formal ou informalmente. Um exemplo são os Pollenators de Oakland, CA. Eles organizaram uma turnê com um pessoal quase todo transgênero pra viajar ajudando vários coletivos a começar projetos e aprender como fazer as coisas. Eles construíram uma casa verde, ensinaram sobre permacultura, instalaram sistemas de água verde etc, e ainda se divertiram viajando. Mais informalmente, você pode simplesmente ter consciência do que tem a oferecer. E mostrar pras pessoas que você pode ensinar pra elas se elas quiserem.
     * Ajude. Mesmo que não tenha nada concreto pra ensinar pras pessoas, você pode sempre se juntar e ajudar. Você está na posição única de não ter horários, obrigações ou projetos em nenhuma cidade que passa. Você pode ser o par de mãos extra que termina a biblioteca de bike, cola os flyers, constrói as preteleiras, lava a louça, organiza a biblioteca de zines… já deu pra entender.

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E é para Espaço

Mais um trecho do livro "Days of War. Nights of Love", lançado pelo coletivo Crimethink.

Alienação: o mapa do desespero

     No mundo moderno, o controle é exercido sobre nós automaticamente pelos espaços em que vivemos e nos movimentamos. Passamos por certos rituais em nossas vidas – trabalho, "lazer", consumo, submissão – porque o mundo é projetado só pra isso. Todos nós sabemos que shoppings são pra fazer compras, escritórios são pra trabalhar, as ironicamente chamadas salas de estar são pra assistir televisão, e escolas são pra obedecer professores. Todos os espaços pelos quais transitamos possuem significados pré-estabelecidos, e pra nos manter fazendo as mesmas coisas basta nos deixar caminhando pelos mesmos caminhos. É difícil achar algo pra fazer no Wal-Mart além de olhar e comprar produtos; e, como estamos acostumad@s a isso, é difícil conceber que realmente poderia haver outra coisa pra se fazer lá – sem contar que fazer qualquer coisa lá além de comprar é muitas vezes ilegal.
     Restam no mundo cada vez menos espaços livres, não desenvolvidos, onde podemos deixar nossos corpos e mentes correrem livres. Praticamente todo lugar que podemos ir pertence a alguma pessoa ou grupo que já lhe designou um significado e uma utilidade: propriedade privada, zona comercial, auto-estrada, sala de aula, parque federal. E as nossas próprias rotas previsíveis pelo mundo raramente nos levam perto das zonas livres que ainda restam.
     Estes espaços, onde o pensamento e o prazer podem ser livres em todos os sentidos, estão sendo substituídos por ambientes cuidadosamente controlados como a Disneylândia – lugares onde nossos desejos são pré-fabricados e nos vendidos de volta com custos financeiros e emocionais. Dar nosso próprio significado ao mundo e criar nossas próprias maneiras de nos divertir e agir nele são partes fundamentais da vida humana; hoje, por nunca estarmos em lugares que encorajem essa postura, não deveríamos nos surpreender que tantas pessoas se sintam desesperadas e frustradas. Mas por terem sobrado tão poucos espaços livres no mundo, e por nossa rotina nunca nos levar até lá, somos forçados a ir a lugares como a Disneylândia pra termos algo parecido com brincadeiras e aventuras. A verdadeira aventura pela qual nossos corações anseiam foi substituída pela falsa aventura, e a sensação de criar foi substituída pelo torpor de ser um mero espectador.
     O nosso tempo está tão ocupado e controlado quanto nosso espaço; de fato, a subdivisão do nosso espaço é uma manifestação do que já aconteceu com o nosso tempo. O mundo inteiro se move e vive de acordo com um sistema padronizado de tempo, projetado pra sincronizar nossos movimentos de um lado do planeta com o outro. Dentro deste sistema, todos nós temos nossas vidas regradas por nossos horários de trabalho e/ou horários de aulas, assim como pelos horários de funcionamento do transporte público e do comércio etc. Essa organização das nossas vidas, que começa na infância, exerce um controle sutil mas profundo sobre todos nós: chegamos a esquecer que o tempo de nossas vidas é nosso pra gastar como escolhermos, ao invés de pensar em termos de dias de trabalho, horas de almoço, e finais-de-semana. Uma vida verdadeiramente espontânea é impensável pra maioria de nós; e o chamado tempo "livre" é normalmente apenas tempo que foi reservado pra fazer outra coisa que não trabalhar. Com que freqüência você vê o sol nascer? Quantas vezes você passeia em belas tardes ensolaradas? Se você tivesse a oportunidade inesperada de fazer uma viagem bacana neste fim-de-semana, você poderia ir?

     Estes ambientes e horários restritivos limitam drasticamente o vasto potencial de nossas vidas. E também nos isolam uns d@s outr@s. Nos nossos trabalhos, passamos uma grande parte do tempo fazendo um determinado tipo de trabalho com um determinado grupo de pessoas em um determinado local (ou pelo menos em um determinado ambiente, o que vale pra operári@s de construção e empregad@s temporári@s). Experiências tão limitadas e repetitivas nos dão uma visão muito limitada do mundo, e não nos dão oportunidade de conhecer pessoas diferentes. Nossos lares nos isolam ainda mais: hoje nos mantemos trancafiad@s em pequenas caixas, em parte por medo daquel@s a quem o capitalismo maltratou ainda mais que a nós, e em parte porque nós acreditamos na propaganda paranóica das empresas que vendem sistemas de segurança. Os condomínios de hoje são cemitérios das comunidades, as pessoas empacotadas em caixas separadas… exatamente como as mercadorias no supermercado, lacradas pra "maior frescor". Com grossas paredes entre nós e nossos vizinhos e vizinhas, e nossos amigos, amigas e família espalhadas por cidades e nações, é difícil haver qualquer tipo de comunidade, muito menos compartilhar espaço comunitário no qual as pessoas podem se beneficiar com a criatividade umas das outras. Tanto o trabalho quanto as nossas casas nos mantém amarrad@s a um lugar único, estacionários, incapazes de viajar ao longe no mundo exceto em rápidas férias.
     Até mesmo nossas viagens são restritas e restritivas. Nossos métodos modernos de transporte – carros, ônibus, metrôs, trens, aviões – nos mantêm pres@s a trilhas fixas, vendo o mundo passar pela janela, como se fosse um programa de televisão particularmente chato. Cada um de nós vive em um mundo pessoal que consiste principalmente de destinações bem conhecidas (o local de trabalho, o mercadinho, o apartamento de um amigo, a boate), com alguns elos entre elas (sentar no carro, ficar de pé no metrô, subir a escada), e poucas chances de encontrar algo inesperado ou de descobrir novos lugares. Uma pessoa pode viajar pelas estradas de dez países sem ver nada além de asfalto e postos de gasolina, se ela ficar no seu carro. Pres@s às nossas trilhas, não conseguimos visualizar uma viagem livre, viagens de descoberta que nos colocariam em contato direto com pessoas e coisas completamente novas a cada esquina.
     Ao invés disso, ficamos sentad@s pres@s em engarrafamentos, cercad@s por centenas de pessoas na mesma situação que nós, mas separad@s delas pelas jaulas de aço de nossos carros – de forma que elas parecem mais com objetos em nosso caminho do que com seres humanos como nós. Pensamos que alcançamos mais partes do mundo com nossos transportes modernos; mas na verdade, quando vemos alguma coisa, vemos menos. Quando nossas capacidades de transporte aumentam, nossas cidades se espalham mais e mais no horizonte. E sempre que as distâncias aumentam, mais carros são necessários; mais carros precisam de mais espaço e então as distâncias aumentam de novo… e de novo. Neste ritmo, auto-estradas e postos de gasolina irão um dia substituir tudo pelo qual valeria a pena viajar… isso quer dizer, tudo que ainda não virou um parque temático ou uma atração turística.

     Alguns e algumas de nós vêem a internet como a "fronteira final", como um espaço livre, ainda não desenvolvido, pronto pra ser explorado. O ciberespaço pode oferecer ou não algum grau de liberdade para aqueles e aquelas que conseguem pagar o acesso pra usá-lo e explorá-lo; mas o que quer que ele ofereça, ele oferece sob a condição de deixarmos nossos corpos no guarda-volumes: amputação voluntária. Lembre-se, você é um corpo no mínimo tanto quanto uma mente: ficar sentad@, parad@, olhando luzes que brilham durante horas, sem usar os sentidos do toque, paladar e olfato, é liberdade? Você esqueceu a sensação de pisar descalço na grama úmida ou na areia quente, do cheiro dos eucaliptos ou de lenha queimando em suas narinas? Você se lembra do cheiro dos talos de tomate? A tremulação da chama de uma vela? A emoção de correr, nadar, tocar?
     Hoje podemos recorrer à internet quando queremos emoções sem nos sentirmos enganad@s, pois nossa vida moderna já é tão limitada e previsível que esquecemos como a ação e o movimento no mundo de real podem fazer a gente se sentir bem. Por que se acomodar com a liberdade limitada que o ciberespaço pode dar, quando existem muito mais experiências e sensações pra sentir aqui no mundo real? Devíamos estar correndo, dançando, remando uma canoa, bebendo a essência da vida, explorando novos mundos – que novos mundos? Temos que redescobrir nossos corpos, nossos sentidos, o espaço à nossa volta, e então podemos transformar este espaço em um novo mundo ao qual podemos dar nossos próprios significados.
     Pra conseguir isso, precisamos inventar novos jogos – que possam ser jogados nos espaços já conquistados deste mundo, nos shoppings, restaurantes e salas de aula, que vão destruir seus significados prescritos pra que possamos lhes dar novos significados de acordo com nossos sonhos e desejos. Precisamos de jogos que nos unam, nos tirem da confinação e isolamento de nossas casas particulares, e nos tragam aos espaços públicos onde podemos nos beneficiar da companhia e criatividades d@s outr@s. Assim como desastres naturais e blecautes podem unir as pessoas e trazer-lhes emoção (afinal, todo mundo quer um pouco de variedade emocionante em um mundo outrora terrivelmente previsível), nossos jogos vão nos unir pra fazermos coisas novas e emocionantes. Devemos pintar poesia nas paredes das zonas comerciais, fazer shows nas ruas, sexo em praças e em sala de aula, piqueniques de graça nos supermercados, festivais espontâneos nas auto-estradas…
     Também precisamos inventar novas definições de tempos e novos modos de viajar. Tente viver sem um relógio, sem sincronizar o seu tempo ao tempo muito ocupado do resto do mundo. Tente fazer uma longa viagem a pé ou de bicicleta, de forma que você encontrará em primeira mão tudo pelo que você passar até chegar ao seu destino, sem vidros no meio. Tente explorar a sua própria vizinhança, olhando nos telhados e dobrando as esquinas que você nunca notou antes – você vai ficar impressionad@ com quanta aventura tem escondida lá, esperando por você!
     Os mapas que existem por aí descrevem um mundo em que nenhum ser humano jamais pisou: um mundo de distâncias cuidadosamente medidas e símbolos padronizados, congelado no tempo, vazio de ambiências emocionais – um mundo objetivo, quando hoje não conhecemos nenhum mundo além do subjetivo. Estes mapas possuem tão pouca informação de real importância à vida humana que não é de se surpreender que acabemos nos perdendo quando os utilizamos: ficamos às voltas em círculos, chegando "no horário" em nossos supostos destinos, sem ter ideia pra onde estamos indo ou por que, muito menos o que há pra ser encontrado neste mundo além de auto-estradas interestaduais e nomes de cidades.
     Se fizéssemos nossos próprios mapas, traçando nossas experiências individuais, ao invés de meros dados fornecidos por nossos instrumentos, eles revelariam claramente o que é ser humano neste mundo. Talvez então poderíamos sair por aí criando um mundo pra seres humanos, não pra instrumentos, viverem. Um livro como Pé Na Estrada ou relatos como os mostrados nesse blog são exemplos destes mapas: eles registram os caminhos de alguns indivíduos através do espaço e do tempo, fazendo uma crônica do tráfego de seus corações e do movimento de seus corpos. Realmente, eles não seriam muito útil pra encontrar o caminho para um posto de gasolina em Denver ou na Argentina, mas com o tempo ele nos ajudaria a irmos bem mais longe do que um mapa do Colorado ou do Pará jamais conseguiu.
     É verdade que todos e todas vivenciamos o mundo de formas diferentes, e que se fôssemos fazer mapas sinceramente (ou seja, subjetivamente) seriam todos diferentes uns dos outros; mas isso deveria ser motivo pra celebrarmos a diversidade do mundo, não pra reclamarmos! E assim como um livro ou um relato sobre pessoas que você nunca conheceu podem ser úteis como um mapa pra sua própria vida, estes mesmos registros individuais podem muitas vezes ser úteis a muitas outras pessoas de várias formas. Você vai perceber que se você se expressar honestamente, você está provavelmente falando por outr@s também: isso é parte de ser humano (e nossa desculpa pra usarmos a palavra "nós" tantas vezes nestas páginas).

 

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Quibe de forno

     A ideia do quibe é misturar triguilho com algum legume cozido: batata, batata-doce, mandioca, inhame, mandioquinha, abóbora (principalmente a cabotchan). Ou tudo misturado. Vai amassar tudo, misturar e temperar. Eu gosto de bater no liquidificador cebola, sal, limão, hortelã e pimenta síria.

     Espalha a massa que formou numa assadeira e leva ao forno até que fique dourado: a parte de cima vai secar e dourar e as beiradas vão ficar um pouco crocantes. Depois de frio, corta em pedaços e leva num pote ou saco. É bom pra ter uma comida salgada no primeiro dia de viagem, mas não é a boa deixar ele por dias na mochila.

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Pães

     A receita básica que uso pra pães é:

     Despeja 1kg de farinha de trigo num recipiente, formando um montinho com um buraco no meio. Nesse buraco despeja óleo e sal e completa com água morna, e por cima 2 pacotes de fermento biológico seco. Deixa descansar por 5 minutos pro fermento reagir. Depois disso, mistura com as mãos e acrescenta água morna até a massa ficar homogênea. Nesse ponto não deixo ela muito seca, deixo num ponto em que fica levemente grudenta, mas sem grudar nos dedos. Cobre com um saco e deixa descansando dentro do forno ou algo do tipo. Quando dobrar de tamanho modela os pães. Vai precisar ainda colocar bem mais farinha e ir amassando bem até chegar no ponto que dê pra abrir. Eu abro um pouco de massa e enrolo como um rocambole. Essa receita dá pão suficiente pra alguns dias de viagem.

     
Junto com a farinha, pode-se misturar as farinhas e temperos que preferir. E prum pão recheado, na hora que abro, cubro com inhame ralado e temperado, por exemplo, e então enrolo. Assim o pão fica recheado e o inhame deixa o meio molhadinho. Mas o recheio é escolha de quem for fazer.

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